segunda-feira, 25 de agosto de 2008

As baleias de Abrolhos

Fonte: Jornal de Uberaba.
No mês de julho, estivemos no arquipélago de Abrolhos, um parque nacional marinho, localizado no litoral sul da Bahia. Fomos ver as baleias jubarte, que nesta época do ano procuram os mares brasileiros para se procriarem e cuidarem dos filhotes, até poderem fazer sua longa viagem de volta à Antártica, onde encontram abundância de alimentos e onde permanecem por cerca de seis meses. Aqui, costumam ficar entre os meses de julho e novembro. Saímos bem cedo, manhã nublada e um vento frio soprando do sul, encrespando as águas do rio Caravelas. O movimento no cais, para uma cidade de vinte mil habitantes, era grande. Vários carros com placas de todo lugar do país estavam estacionados. Crianças e adultos animados encaravam a foz do rio de onde sairia o barco que nos conduziria ao mar, ao encontro das baleias. As pessoas, meio desajeitadas, entravam no barco e acomodavam-se. Uma moça simpática fazia uma espécie de chamada e dava algumas instruções. Um jovem agitado separava e conferia equipamentos de mergulho. Então, perguntou, indiscreto, quem iria fazer o “batismo” e eu logo pensei em São João Batista. O profeta foi para o deserto pregar, nós íamos ao mar e a intenção não era me converter, muito menos que alguém me afundasse nas águas frias do mar naquela manhã de terça-feira. Descobrimos que o batismo não era um ritual de purificação do corpo, mas a primeira vez de quem ia mergulhar. Não era o nosso caso e logo procuramos um lugar sossegado para enfrentar o balanço do mar sem muito enjôo.O barquinho partiu em direção a Abrolhos e o suspense era grande. A questão era saber quando avistaríamos as primeiras baleias, se é que iam aparecer. À medida que nos afastávamos da costa, o Sol brilhava com maior intensidade e o calor aumentava. Impressionante a cor azul esverdeada do mar da Bahia e a imensidão de água à nossa frente. Éramos uns trinta “avistadores de baleias”, devidamente armados com nossas máquinas fotográficas, umas mais sofisticadas, verdadeiros mísseis de longo alcance, outras mais simples, humildezinhas. Não obstante a atenção total ao nosso objetivo, as baleias, logo se destacaram os mais desinibidos, encarregando-se das perguntas de praxe: de onde vinham, o que faziam. Resultado da enquete: três alemães, uma francesa, um peruano e brasileiros de todos os cantos do país, principalmente de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, incluindo uma professora de Goiás. A viagem transcorria tranqüila até que um esguicho avistado no horizonte fez com que todos corressem até a murada esquerda do barco. Máquinas fotográficas a postos e a sensação de que, agora sim, a viagem tinha valido a pena. Eram as baleias, umas cinco ou seis, de tamanhos variados, mas bem grandes, confirmando nossas expectativas. Cruzaram o barco bem na nossa frente, num mergulho cadenciado, com a certeza de que não seriam importunadas.Ao meio-dia chegamos no arquipélago, onde desembarcamos e caminhamos ao lado de bonachões e estridentes atobás brancos, nadamos em águas claras repletas de corais no fundo, almoçamos e retornamos ao continente no fim da tarde, tendo chegado já noite escura. No caminho, tanto na ida quanto na volta, pudemos saciar nossa vontade de ver e conferir se as baleias estavam ali mesmo, cumprindo seu compromisso anual. Pensei no capitão Ahab e seu ódio mortal à Moby Dick, pensei nos japoneses e em sua desculpa esfarrapada para caçar esses animais tão bonitos e pacíficos, e nas pessoas que ali estavam, silenciosas e pensativas após um dia inteiro no mar, atrás de baleias para fotografar e admirar. Ainda bem que o mundo, as mentalidades e as atitudes mudam. Ainda bem!Renato Muniz Barretto de Carvalho é geógrafo e professor universitário em Uberaba.

Um comentário:

Mauro Rocha disse...

Exuberante Abrolhos. Feliz escolha de tema. Parabéns ao Rubens!